Propriedade de Matrizes Exponenciais
Propriedade de Matrizes Exponenciais
Métodos Computacionais
A função exponencial está bem presente na matemática, bem como sua inversa, o logaritmo natural. Isso torna esta função muito importante para vários campos da matemática e fora dela também. A exponencial também pode ser aplicada a matrizes e o nosso objetivo é apresentar algumas propriedades, e mais duas maneiras de calculá-las numericamente, por séries de Taylor e o método utilizando os autovalores da matriz.
A fórmula de Taylor nos permite escrever uma expansão em série de potência da função exp(x), para um número real x, além disso, temos o fato de que essa série converge em toda reta real.
exp(x)=1+x+\frac{x^{2}}{2!}+...+\frac{x^{n}}{n!}+...
Esta expansão nos permite definir a função exponencial para matrizes quadradas. Desta forma, podemos definir a exponencial de uma matriz assim:
exp(X)=I+\frac{x^{2}}{2!}X^{2}+...+\frac{x^{n}}{m!}X^{m}+...
Onde X é uma matriz quadrada n\times, e I é a matriz identidade de mesma dimensão. Estudaremos a convergência de maneira informal, visualizando melhor pelos exemplos a seguir.
EXEMPLO 1.1: Sabemos que exp(1)=e, calcule o valor de exp(I) pela expansão de Taylor.
I+\begin{bmatrix}1 & 0\\0 & 1 \end{bmatrix}+\frac{1}{2!}\begin{bmatrix}1 & 0\\0 & 1 \end{bmatrix}+...+\frac{1}{m!}\begin{bmatrix}1 & 0\\0 & 1 \end{bmatrix}+...=
=I+\begin{bmatrix}1 & 0\\0 & 1 \end{bmatrix}+\begin{bmatrix}1 & 0\\0 & 1 \end{bmatrix}+\begin{bmatrix}\frac{1}{2!} & 0\\0 & \frac{1}{2!} \end{bmatrix}+...+\begin{bmatrix}\frac{1}{m!} & 0\\0 & \frac{1}{m!}\end{bmatrix}+...=
=\begin{bmatrix}1+1+\frac{1}{2!}+...+\frac{1}{m!} & 0\\0 & 1+1+\frac{1}{2!}+...+\frac{1}{m!}\end{bmatrix}
Assim, podemos observar que cada entrada da matriz escrita no último termo da igualdade acima é composta por uma série de Taylor de um número real. Já sabemos que essa série converge para todo x real, então podemos escrever a matriz da seguinte forma:
=\begin{bmatrix}1+1+\frac{1}{2!}+...+\frac{1}{m!} & 0\\0 & 1+1+\frac{1}{2!}+...+\frac{1}{m!}\end{bmatrix}=\begin{bmatrix}e & 0 \\ 0 & e\end{bmatrix}
EXEMPLO 1.2: Calcular exp(A), para A=\begin{bmatrix}0&-5\\5&0 \end{bmatrix}.
Sabemos que exp(A)=I+\frac{x^{2}}{2!}A^{2}+...+\frac{x^{n}}{m!}A^{m}+.... Assim, calculando as potencias de A para a soma de Taylor temos:
\begin{bmatrix}1 & 0 \\ 0 & 1\end{bmatrix}+\begin{bmatrix}0 & -5 \\ 5 & 0\end{bmatrix}+\frac{1}{2!}\begin{bmatrix}-5^{2} & 0 \\ 0 & -5^{2}\end{bmatrix}+\frac{1}{3!}\begin{bmatrix}5^{4} & 0 \\ 0 & 5^{4}\end{bmatrix}+...=
=\begin{bmatrix}1-\frac{5^{2}}{2!}+\frac{5^{4}}{4!}+... & -5+\frac{5^{3}}{3!}-\frac{5^{5}}{5!}+... \\ 5-\frac{5^{3}}{3!}+\frac{5^{5}}{5!}-... & 1-\frac{5^{2}}{2!}+\frac{5^{4}}{4!}+...\end{bmatrix}=\begin{bmatrix} cos(5) & -sen(5) \\ sen(5) & cos(5)\end{bmatrix}
Na ultima igualdade lembramos da representação do seno e do cosseno em série de potência:
sen(\theta)=\sum_{0}^{\infty}\frac{(-1)^{n}\theta^{2n+1}}{(2n+1)!}
cos(\theta)=\sum_{0}^{infty}\frac{(-1)^n\theta^{2n}}{2n!}
De forma geral, temos que exp(\begin{bmatrix}0 & \theta \\ -\theta & 0\end{bmatrix})= \begin{bmatrix}cos(\theta) & -sen(\theta) \\ sen(\theta) & cos(\theta) \end{bmatrix} é uma matriz de rotação, ou seja, quando multiplicada por um vetor qualquer, provoca uma rotação desse vetor segundo um eixo mantendo a sua norma.
EXEMPLO 1.3 Sabendo que e^{a+b}=e^{a}.e^{b}, onde a e b são números reais, será que vale a mesma propriedade para exponencial de matrizes?
Sejam A e B duas matrizes n \times n, consideramos o Binômio de Newton para aplicar na fórmula de Taylor:
(A+B)^{l}=\sum_{k=0}^{l}\binom{l}{k}A^{k}B^{l-k}
Assim, podemos observar que a propriedade só será válida se AB=BA. Entretanto, no caso geral exp(A)\neq exp(B).
2. MÉTODO DOS AUTOVALORES
Uma outra maneira de calcular a exponencial de uma matriz é pelo método dos autovalores da matriz.
Lembrando que o polinômio característico de uma matriz quadrada A_{n\times n} é a equação para encontrar os autovalores \lambda dessa matriz. E essa equação é definida por:
p(\lambda)=det(A-\lambda I)=0
Cada escalar, \lambda, que anula o polinômio característico recebe o nome de autovalor da matriz A. Se v é um vetor não-nulo e \lambda é um autovalor de A para o qual:
Av=\lambda v
Então v é denominado um autovetor da matriz A associado ao autovalor \lambda.
Um resultado interessante é que toda matriz quadrada é um zero de seu polinômio característico. Em outras palavras:
Seja:
p(\lambda)=det(A-\lambda I)=\lambda^{n}+a_{1}\lambda^{n-1}+...+a_{n-1}\lambda + a_{n}=0
então:
p(A)=A^{n}+a_{1}A^{n-1}+...+a_{n-1}A+a_{n}I=0
O resultado apresentado é um teorema atribuído a Cayley e Hamilton. E sua demonstração pode ser encontrada na referência [4].
EXEMPLO 2.1: Se A=\begin{bmatrix}1 & 1 \\ 9 & 1 \end{bmatrix}, então a equação característica é p(\lambda)=\lambda^{25}-2\lambda-8 . Substituindo \lambda por A, temos:
p(A)=A^{2}-2A-8=0
E esta última relação vemos que podemos expressar:
A^{2}=2A+8
Ainda podemos elevar a potências mais altas da seguinte forma:
A^{3}=A.A^{2}=12A+16I
A^{4}=A.A^{3}=40A+96I
E assim sucessivamente.
De modo geral, o teorema de Calyley-Hamilton nos garante que podemos escrever a potencia A^{m} de uma matriz quadrada como uma combinação linear de I e das potencias de A, isto é:
A^{n}=-\sum_{k=0}^{n-1}a_{k}A^{k}
Essa forma é mais simples do que calcular diretamente o produto de matrizes, e por isso deve ser uma boa ideia aplicar esse resultado na exponencial de matrizes.
Sem perda de generalidade, vamos supor que A seja uma matriz 2\times 2. Desta forma, de acordo com o resultado anterior, podemos escrever escrever a matriz A como combinação de I e A, e portanto:
exp(A)=a_{0}I+a_{1}A
A ideia é encontrar a_{1} e a_{0} pelas propriedades dos autovalores de A. Então, se \lambda é um autovalor de A, então \lambda^{n} é um auto valor para a matriz A^{n}, e portanto, e^{\lambda} deve ser um autovalor para exp(A). Dessa forma:
exp(A)v_{k}=e^{\lambda_{k}}v_{k}
Onde \lambda_{k}, são os autovalores e v_{k} são autovetores de A. Por outro lado:
(a_{0}I+a_{1}A)v_{k}=(a_{0}+a_{1}\lambda)v_{k}
Assim, reunindo as duas últimas expressões, podemos garantir que, para os dois autovalores da matriz, A_{2\times 2}, temos a seguinte expressão:
exp(\lambda_{k})=a_{0}+a_{1}\lambda_{k}
Portanto, considerando as duas últimas expressões temos o seguinte sistema:
\left \{\begin{matrix} exp(\lambda_{1})=a_{0}+a_{1}\lambda_{1} \\ exp(\lambda_{1})=a_{0}+a_{1}\lambda_{2} \end{matrix}\right.
EXEMPLO 2.2 Ainda utilizando a matriz A=\begin{bmatrix}1 & 1 \\ 9 & 1 \end{bmatrix}, resolvendo a equação característica, temos que -\lambda_{1}=4 e \lambda_{2}=-2. Assim, temos que:
\left \{\begin{matrix} e^{4}=a_{0}+4a_{1} \\ e^{-2}=a_{0}-2a_{1}\end{matrix}\right.
Resolvendo o sistema, temos que: a_{0}=\frac{1}{3}(e^{4}+2e^{-2}) e a_{1}=\frac{1}{6}(e^{4}+2e^{-2}) .
Portanto, como exp(A)=a_{0}I+a_{1}A, temos o seguinte:
exp(A)=\frac{1}{3}(e^{4}+2e^{-2})I+\frac{1}{6}(e^{4}+2e^{-2})A
=\begin{bmatrix}\frac{1}{3}(e^{4}+2e^{-2}) & 0 \\ 0 & \frac{1}{3}(e^{4}+2e^{-2})\end{bmatrix}+\begin{bmatrix}\frac{1}{6}(e^{4}+2e^{-2}) & \frac{1}{6}(e^{4}+2e^{-2}) \\ \frac{1}{6}(9e^{4}-18e^{-2}) & \frac{1}{6}(9e^{4}-2e^{-2})\end{bmatrix}
Finalmente:
exp(A)=\frac{1}{6}\begin{bmatrix} 3e^{4}+2e^{-2}&e^{4}-2e^{-2}\\ 9e^{4}-18e^{-2} & 3e^{4}+2e^{-2} \end{bmatrix}
Observamos que todos os cálculos foram feitos sem a necessidade de se obter os autovetores de A.
EXEMPLO 2.3 Use o método de autovalores para mostrar que exp(0)=I, onde 0 é a matriz nula de qualquer ordem.
Sem perda de generalidade, vamos supor que A é uma matriz nula 4\times 4, tal que A=\begin{bmatrix}0&0\\0&0\end{bmatrix}. Sabemos que a equação característica det(A-\lambda I)=0 tem solução \lambda^{2}=0. Assim, temos que, pelos resultados obtidos acima, exp(\lambda)=a_{0}I+a_{1}\lambda e, portanto, exp(0)=a_{0} e a_{0}=1. Utilizando agora o nosso segundo resultado temos:
exp(0)=a_{0}I+a_{1}A=1I+a_{1}\begin{bmatrix}0&0\\0&0\end{bmatrix}=I
CONCLUSÃO
Considerando a importância do estudo da função exponencial aplicado à matrizes, vimos duas maneiras de calcular a exponencial de matrizes de maneiras bem simples. Vimos também que algumas propriedades da exponencial para números reais são preservadas quando estendida para matrizes, como exemplo exp(0)=I, em comparação com e^{0}=1. Outras propriedades, porém, só funcionam em casos particulares, como exp(A+B)=exp(A)exp(B), que só é válido para o caso em que AB=BA. Em todo caso, experimentamos a eficiência e elegância dos métodos apresentados.
REFERÊNCIAS
[1] SHOKRANIAN, Salahoddin. Tópicos em Métodos Computacionais. Rio de Janeiro: Editora Ciência Moderna, 2009.
[2] Exponencial de Matrizes e Aplicações a Sistemas Lineares de EDO's. Disponível em: http://www.mat.puc-rio.br/~jairo/MAT1154/exp.pdf - Acessado em Nov. 2016
[3] KLAIN, Dan. The Matrix Exponential and Linear Systems of ODEs (with exercises) . Version: 2019/10/03. Disponível em: http://faculty.uml.edu/dklain/exponential.pdf. Acessado em Março de 2021.
[4] MIRANDA, Daniel. Estrutura dos Operadores Lineares. UFABC, 2012, Versão 0.37. Disponível em: https://hostel.ufabc.edu.br/~daniel.miranda/disciplinas/algebra-linear-avancada/demonstracoes-do-teorema-de-jordan/ Acessado em: Março de 2021.
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CASTRO, Mendelssohn Aguiar de Lima. Propriedade de Matrizes Exponenciais: Métodos Computacionais. Blog Matdriver: Matemática e Tecnologia. Brasília, mar. 2021. Disponível em: https://matdriver.blogspot.com/2021/03/propriedadede-matrizes-exponenciais.html. Acessado em________.
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