Autovalor Dominante

Autovalor Dominante

Método de Potenciação


Devido a vasta aplicação de matrizes em vários campos da matemática, consideramos a importância do estudo dos métodos computacionais para determinar os autovalores e autovetores de matrizes. Em particular, exploraremos o método de potenciação, que é um procedimento iterativo para produzir uma sequência de escalares que converge para o autovalor da matriz.


1. AUTO VALOR E AUTO VETOR DE UMA MATRIZ


Os autovalores de uma matriz A são precisamente as soluções \lambda da equação:

det(A-\lambda I)

Quando desenvolvemos essa equação, obtemos um polinômio em \lambda, chamado polinômio característico, de A. Por exemplo, se \begin{bmatrix}a & b \\ c & d \end{bmatrix}, seu polinômio característico é:

det(A- \lambda I)=\begin{bmatrix} a-\lambda & b \\ c & d-\lambda \end{bmatrix}=

=(a-\lambda)(b-\lambda)-bc=

=\lambda^{2}-(a+d)\lambda+(ad-bc)

 

Dessa forma, se a matriz for n\times n, o seu polinômio característico será de grau n. E, pelo Teorema Fundamental da Álgebra, a matriz terá no máximo n autovalores distintos.

Já o autovetor de uma matriz é um vetor x, não nulo, tal que Ax=\lambda x, ou seja, podemos encontrar o autovetor resolvendo o sistema A-\lambda I=0.


EXEMPLO: Vamos mostrar que \lambda=5 é um autovalor de A=\begin{bmatrix}a&2\\4&3\end{bmatrix}, e determinar todos os autovetores correspondentes a esse autovalor.

det(A-\lambda I)=\begin{vmatrix}1-\lambda & 2 \\ 4 & 3-\lambda\end{vmatrix}

Portanto, \lambda=-1 e \lambda=5 são todos os autovalores da matriz A. Podemos encontrar os autovetores resolvendo o sistema (A-5I)x=0 para o vetor x\begin{bmatrix} x_{1}\\x_{2}\end{bmatrix}, ou seja:

(A-5I)x=\begin{bmatrix}-4&2\\-4&-2\end{bmatrix}\begin{bmatrix}x_{1}\\x_{2}\end{bmatrix}=\begin{bmatrix}0\\0\end{bmatrix}

Resolvendo o sistema acima, temos que x_{2}=2x_{1}. E, portanto, temos que x=\begin{bmatrix} x_{1}\\2x_{1}\end{bmatrix} é um autovetor correspondente ao autovalor \lambda=5. Ou seja, todos os seus autovetores são múltiplos não nulos de \begin{bmatrix}1\\2\end{bmatrix}.


AUTO VALOR DOMINANTE


Como foi visto, os autovalores de uma matriz são as raízes de seu polinômio característico. Assim, o autovalor dominante é como chamamos o autovalor com maior valor absoluto.

O processo de calcular os autovalores nem sempre é simples. Por exemplo, o cálculo de determinantes em matrizes de ordens muito grandes pode ser um processo muito demorado. Outra situação é que não existem fórmulas simples para calcular um polinômio característico de ordens maiores do que quatro. Portanto, uma boa alternativa é encontrar aproximações para o autovalor.


MÉTODO DE POTENCIAÇÃO


O Método de potenciação é uma boa ferramenta para calcular o autovalor dominante de uma matriz, pois este consiste em um método iterativo simples que gera uma sequência de escalares que converge para o autovalor da matriz.

A ideia é considerar uma matriz A_{n\times n} com autovalor dominante \lambda_{1}. Lembrando ainda que Av=\lambda v. E sejam v_{1}, v_{2},…, v_{n}, os autovetores correspondentes aos autovalores da matriz A_{n\times n}. E, como det(A-\lambda I)=0, os autovetores devem ser linearmente independentes. Assim, podemos escrever um vetor Z_{0} como combinação linear dos autovetores de A:

Z_{0}=a_{1}v_{1}+a_{2}v_{2}+…+a_{n}v_{n}

Definimos agora Z_{k-1}=AZ_{k}, para k=1, 2, …

Dessa forma temos:

Z_{1}=AZ_{0}=Aa_{1}v_{1}+Aa_{2}+...+Aa_{n}v_{n}

=a_{1}Av_{}1+a_{2}Av_{2}+…+a_{n}Av_{n}

=a_{1}\lambda_{1}v_{1}+a_{2}\lambda_{2}v_{2}+…+a_{n}\lambda_{n}v_{n}


Considerando que:

v_{1}=Av_{0}

v_{2}=Av_{1}=A(Av_{0})=A^{2}v_{0}

v_{3}=Av_{2}=A(A^{2}v_{0})=A^{3}v_{0}

v_{k}=A^{k}v_{0}

Então:

Z_{k}=A^{k}x_{0}

=a_{1}\lambda^{k}_{1}v_{1}+a_{2}\lambda^{k}_{2}v_{2}+…+a_{n}\lambda^{k}_{n}v_{n}

Evidenciando \lambda_{1}{k} temos:

Z_{k}=\lambda_{1}(a_{1}v_{1}+a_{2}(\frac{\lambda_{2}}{\lambda_{1}})^{k}v_{2}+…+a_{n}(\frac{\lambda_{n}}{\lambda_{n}})^{k}v_{n})

Se considerarmos que \lambda_{1} é o autovalor dominante, e que \lambda \neq 0, temos que: \frac{\lambda_{i}}{\lambda_{1}}<1, para i=1, 2, 3, …. Portanto:

(\frac{\lambda_{2}}{\lambda_{1}})^{k}, (\frac{\lambda_{3}}{\lambda_{1}})^{k}, … , (\frac{\lambda_{n}}{\lambda_{1}})^{k}

E essa é uma sequência que tende a zero quando k\to\infty. Logo, para k \to infty temos que:

Z_{k}=A^{k}v_{0}\to \lambda_{1}^{k}a_{1}v_{1}

Onde v_{1} é o auto vetor associado ao auto valor dominante \lambda_{1}, e a_{1} é o coeficiente de v na representação de Z_{0} como combinação linear dos autovalores linearmente independentes de A.

Agora, nosso trabalho é explicitar \lambda_{1}. E, para simplificar a notação, chamaremos o autovalor dominante \lambda_{1} apenas de \lambda, e o coeficiente a_{1} apenas de a. Para este cálculo, utilizaremos os argumentos acima e ainda faremos uso de uma ferramenta chamada quociente de Rayleight, que é uma sequencia definida assim:

R^{(k)}=\frac{_{}^{t}\textrm{Z}_{k}AZ_{k}}{_{}^{t}\textrm{Z}_{k}Z_{k}}

Podemos verificar que R^{(k)}\to \lambda quando k \to \infty. Deste modo, usando os fatos verificados anteriormente tem-se:

R^{(k)}=\frac{_{}^{t}\textrm{v}a\lambda^{k}A\lambda^{k}av}{_{}^{t}\textrm{v}a\lambda^{k}\lambda^{k}av}=\frac{_{}^{t}\textrm{v}a^{2}(\lambda^{k})^{2}A\lambda^{k}av}{_{}^{t}\textrm{v}a\lambda^{k}\lambda^{k}av}=\lambda


Desta maneira, temos que \lambda=\frac{_{}^{t}\textrm{Z}_{k}AZ_{k}}{_{}^{t}\textrm{Z}_{k}Z_{k}}. E, a seguir, temos que definir um vetor Y_{k}, para normalizar o vetor Z_{k} da seguinte forma:

Y_{k}=\frac{Z_{k}}{||Z_{k}||^{2}}

para k= 0, 1, 2, …

Como ||Z_{k}||^{2}=1 e Z_{k}AZ_{k}=AZ_{k+1}. Logo, usando o resultado anterior, temos que o quociente de Rayleigh pode ser reescrito assim:

\lambda_{k}=Y_{k}Z_{k+1}

Com isso, temos um método para calcular o autovalor dominante de uma matriz qualquer. Ou seja, devemos calcular os elementos da sequência (\lambda_{k}) até que \frac{\lambda_{k+1}-\lambda_{k}}{\lambda_{k+1}}<\varepsilon , para todo \varepsilon>0.

O método se resume nos seguintes passos: 


Dada uma Matriz real A_{n\times n}

1

Escolher um vetor coluna n\times 1 em R^{n}

2

Calcular Z_{k+1}=AZ_{k}, k=0, 1, 2, …

3

Calcular Y_{k}=\frac{Z_{k}}{||Z_{k}||^{2}}, k=0, 1, 2, …

4

Calcular a sequência \lambda_{k}=_{}^{t}\textrm{Y}_{k}Z_{k+1}, k=0, 1, 2, …

5

Terminar o processo quando \frac{\lambda_{k+1}-\lambda_{k}}{\lambda_{k+1}}<\varepsilon, \forall \varepsilon>0

EXEMPLO:


Seja A=\begin{bmatrix}1&1\\2&0\end{bmatrix} e \varepsilon=0,005, encontre o auto valor dominante pelo método de potenciação.

Escolhendo Z_{0}=\begin{bmatrix}1\\0\end{bmatrix} e normalizando temos Y_{0}=\begin{bmatrix}1&0\end{bmatrix}. Desta forma temos:

Z_{1}=AZ_{0}=\begin{bmatrix}1 & 0\\ 2& 0 \end{bmatrix}\begin{bmatrix}1\\0\end{bmatrix}

e, portanto, Z_{1}=\begin{bmatrix}1\\2\end{bmatrix}, e:

\lambda_{0}=Z_{1}._{}^{t}\textrm{Y}_{0}=\begin{bmatrix}1\\0\end{bmatrix}\begin{bmatrix}1&0\end{bmatrix}=1


Continuando o algoritmo:

Z_{2}=AZ_{1}=\begin{bmatrix}1&1\\0&2\end{bmatrix}\begin{bmatrix}1\\2\end{bmatrix}

e, portanto, Z_{2}=\begin{bmatrix}3\\4 \end{bmatrix}.

Devemos normalizar Z_{1} para encontrar T_{1}, ou seja: Y_{1}=\begin{bmatrix}\frac{1}{5}\\ \frac{2}{5}\end{bmatrix}, e:

\lambda_{1}=Z_{2}._{}^{t}\textrm{Y}_{1}=\begin{bmatrix}3\\4\end{bmatrix}\begin{bmatrix}\frac{1}{5} & \frac{2}{5} \end{bmatrix}=2,2

Fazendo o teste de convergência, temos \frac{2,2-1}{2,2}=0,545>0,005=\varepsilon. Continuando o algoritmo, temos que temos os dados na seguinte tabela:

k

Z_{k}

_{}^{t}\textrm{Y}_{k}

\lambda_{k}

\frac{\lambda_{k+1}-\lambda_{k}}{\lambda_{k+1}}

\begin{bmatrix}1\\0\end{bmatrix}

\begin{bmatrix}1\\0 \end{bmatrix}

1

\begin{bmatrix}1\\2\end{bmatrix}

\frac{1}{5}\begin{bmatrix}1&2\end{bmatrix}

2,2

0,545

\begin{bmatrix}3\\4\end{bmatrix}

\frac{1}{13}\begin{bmatrix}3&2\end{bmatrix}

2,076

0,059

\begin{bmatrix}5\\6\end{bmatrix}

\frac{1}{61}\begin{bmatrix}5&6\end{bmatrix}

1,885

0,101

\begin{bmatrix}11\\10\end{bmatrix}

\frac{1}{221}\begin{bmatrix}11&10\end{bmatrix}

2,040

0,075

\begin{bmatrix}21\\22\end{bmatrix}

\frac{1}{925}\begin{bmatrix}21&22\end{bmatrix}

1,975

0,032

\begin{bmatrix}85\\86\end{bmatrix}

\frac{1}{3613}\begin{bmatrix}43&42\end{bmatrix}

2,011

0,017

\begin{bmatrix}85\\86\end{bmatrix}

\frac{1}{14621}\begin{bmatrix}85&86\end{bmatrix}

1,994

0,008

\begin{bmatrix}171\\170\end{bmatrix}

\frac{1}{58141}\begin{bmatrix}171&170\end{bmatrix}

1,997

0,001

 

Fazendo o teste de convergência para a ultima iteração temos \frac{1,997-1,994}{1,997}=0,001<0,005=\varepsilon. Assim, temos que o autovalor dominante se aproxima de 2 a medida que k\to \infty. Ou que para um erro \varepsilon temos que \lambda=1,997.

A figura abaixo, mostra o que está acontecendo geometricamente, alguns dos Z_{k} do processo de iteração estão sendo mostrados juntamente com as direções que determinam. Aparentemente, os vetores Z_{k} estão convergindo para a reta que representa o autovetor dominante.

CONCLUSÃO


Considerando o estudo de matrizes e seus autovalores, exploramos o método de potenciação, que é um procedimento iterativo para produzir uma sequência que converge para o autovalor dominante da matriz. Este método mostra-se bastante eficaz em situações em que é muito difícil calcular os autovalores analiticamente.



REFERÊNCIAS


  • SHOKRANIAN, Salahoddin. Tópicos em Métodos Computacionais. Rio de Janeiro: Editora Ciência Moderna, 2009.

  • POOLE, David. Álgebra linear. Rio de Janeiro: Pioneira Thomson Learning, 2004.

  • Métodos Iterativos para o Cálculo de Autovalores. Disponível em: http://www.mat.puc-rio.br/cursos/MAT1202/files/teoria/MetPot.pdf. Acesso: Dezembro de 2016.

     

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    CASTRO, Mendelssohn Aguiar de Lima. Auto Valor Dominante: Método de Potenciação. Blog Matdriver: Matemática e Tecnologia. Brasília, mar. 2021. Disponível em: https://matdriver.blogspot.com/2021/04/autovalordominante-metodode-potenciacao.html. Acessado em________.


     

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